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História de grandes mulheres ajudaram a criar a história de Tiradentes

 

Vereadora Luciana Venturini (crédito: arquivo pessoal)

Importante cidade histórica e reduto turístico de Minas Gerais atrela narrativas femininas a construção de sua identidade e cultura

Uma cidade é feita de construções, mas também de histórias. Entre as mais de 850 cidades de Minas Gerais, está escondida entre as robustas montanhas da Serra de São José, no Campo das Vertente, a carinhosa Tiradentes, um reduto de muitas narrativas que, quase sempre, cruzam com vida de mulheres que ajudaram a forjar os caminhos e a história deste estado.
Muito mais que matriarcas, essas mulheres souberem empreenderem quando a palavra empreendedorismo sequer existia. O que se tinha na ocasião era esmero, sonhos e a força de vontade de fazer um mundo melhor tanto para a própria família quanto para as pessoas que passavam pelas ruas da cidade.
Como o caso de Dona Josefina do Nascimento Fonseca, que em 1970 fundou o Restaurante Padre Toledo, uma das casas mais tradicionais de Tiradentes. Ainda jovem, a mulher, e o marido, enfrentavam uma dificuldade financeira em casa e para ajudar resolveu a produzir e vender doce e quitandas, conquistando pequena freguesia.
Coragem é uma palavra que a definia e isso teve a quem puxar. Sua mãe, Olinda Costa do Nascimento, quem ensinou a fazer os doces e as quitandas, vendia seus produtos em São João del Rey. Para chegar à cidade, andava cerca 30 quilômetros a pé todos os dias. Essa inspiração motivou Dona Josefina a tomar as rédeas do próprio negócio.
Chegou a ser primeira dama da cidade e nessa época recebia autoridades na sua casa por falta de locais para receber esse público. Assim, mesmo com um mercado turístico ainda inexistente e sem recursos, viu a oportunidade ergueu o próprio restaurante, mas seu exemplo não é apenas o do empreendedorismo.
Com seu jeitinho cativo e matriarcal, sempre abraçando a todos, Josefina quebrava paradigmas de uma época muito conservadora. Os netos contam que ela foi uma das primeiras mulheres da cidade a tomar coragem para usar calça comprida, criou sua base familiar com o dinheiro dos doces, incialmente, e depois com a renda do restaurante.
“O restaurante foi um sucesso, a comida dela era tão boa. Me lembro que dona Josefina sempre foi muito dinâmica, muito articuladora, muito envolvida nos negócios, no processo de decisão, sempre muito empreendedora, muito visionária. Nos momentos de dificuldades que a gente passa, acabo lembrando sempre dela, de como nos ensinou a ter muita perseverança e fé. Sempre além de tudo, ela é uma mulher com muita devoção, com muita fé”, conta Fernanda Fonseca, turismóloga e neta de Dona Josefina, que hoje tem 89 anos.
Enquanto Dona Josefina construía seu legado, nascia e crescia entre as ruas de Tiradentes Luciana Venturini, uma outra mulher que ajudou a cuidar desta cidade, da casa das comadres à Câmara Municipal. Hoje vereadora, mas em seus 46 anos de vida, trabalhou tanto e em tantos lugares que sua história tem uma pluralidade que carece de dezenas de outras histórias para poder ser contada.
Empregada doméstica, garçonete, recepcionista, vendedora de comércio, locutora de rádio, dançarina de banda, agente comunitária de saúde, servidora pública e agora vereadora. Luciana se orgulha de um currículo tão extenso, mas há um ponto específico que a enche um pouco mais de orgulho e que serve de inspiração e motivação para muitas outras mulheres mundo afora. Ela é a primeira mulher a assumir o cargo de Presidente da Câmara dos Vereadores de Tiradentes em toda a história da cidade.
“Acredito que seja de grande importância a representatividade feminina no legislativo para mostrarmos nossa capacidade em administrar e conduzir os trabalhos. Não quero ser a única, quero ser apenas um grande incentivo a todas outras. O deságio é mostrar que nós mulheres temos opinião formada e podemos sim tomar decisões. Comecei a trabalhar por volta de 12 anos de idade e tenho muito orgulho de toda minha história, da minha cidade e meu povo”, conta a vereadora.
Exemplos como o de Luciana e de Dona Josefina são a mais clara característica de Minas Gerais, que enaltece a partir de valores atrelados a tradições, família e, é claro, uma boa gastronomia. Por falar em tradições, culinária e laços familiares, outra história de Tiradentes que vale a pena ser contada é a do Restaurante Pau de Angu, uma tradição familiar que vem passando de mão em mão, de geração em geração, de mulher para mulher.
Tudo começou com Dona Leonidia de Jesus Bezerra, que desde 1990 trabalhava em restaurantes, mas sempre sonhava em ter o próprio negócio. Depois de muito pensar, calcular e articular, arregaçou as mangas e, em 2007, recebeu o apoio das duas filhas para tornar esse sonho realidade. Assim nasceu o Pau de Angu.
“O empreendimento veio pelo sentimento de querer resgatar a lembrança da comida de vó, mas de maneira saudável. Sou filha de mãe mineira e adepta de alimentos saudáveis, optei por não usar insumos que não fossem naturais e por isso trazemos um cardápio de comida mineira raiz, que lembra comida de vó”, confessa Leonidia.
Leonidia mostrou-se aos poucos não só uma empreendedora preocupada com a qualidade do produto, mas também com o serviço. Para ela, o sucesso de um empreendimento liderado por mulheres se dá fato do sexo feminino ser mais atencioso e detalhistas ao tomar decisões. “Passo para minhas filhas e colaboradores a importância do respeito com os nossos clientes. Minas meninas também trabalham no restaurante. Uma delas é cozinheira e a outra é a responsável por manter o salão em ordem”, conta a empreendedora.
Tiradentes ainda poderia render centenas de outras histórias de mulheres que colocaram a mão na massa para construir essa cidade. Afinal, um reduto tão importante para a cultura de Minas Gerais, um estado que é predominantemente formado por mulheres, tem nas mãos delas a identidade principal.

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